E o critério é...

Quando se nasce negro ou negra, você começa a se “acostumar” a ser visto como alguém que não é digno de confiança. Nos acostumamos com o duvidar constante do Outro sobre nós. Nosso caráter é quase sempre visto de forma duvidosa, e pode ter certeza que em uma situação de questionamento sobre a veracidade de um determinado fato, estaremos no topo da lista das desconfianças! Nosso caráter é na maioria da vezes julgado de forma racista, pelo critério da cor. Sempre ouvi de amigos e amigas negros que quando se é negro temos que nos esforçar dez vezes mais que um branco, para sermos vistos ou reconhecidos, e ainda assim seremos alvos das desconfianças alheias. Calma querida gente branca! Sei que isso não é intencional, é, antes de tudo, fruto de um processo cruel e selvagem de racismo que reproduzimos até os dias atuais em nossas atitudes mais inocentes!

Somos todos frutos dessa sociedade racista e isso começa muito cedo, desde a nossa infância, na construção do nosso imaginário social, nas brincadeiras, nos contos de fadas, em que ser branco ou branca, é sempre associado a sutileza, delicadeza, ao ser carinhoso e doce. Quem de nós não se lembra das princesas que exalavam inocência, juventude, verdades. São retratadas de forma quase imaculada, nas tramas, estas princesas sofriam todo tipo de perseguição, por inveja de alguém considerado impiedoso e sem coração que as maltratava, perseguia e invejava. Dessa maneira, prevalecia a ideia da branquitude, como a clareza, o lado bom da história, em contraste, tudo que é escuro, e que não se enquadrava nesse conceito de beleza e verdade, é retratado como algo ruim, negativo, mentiroso.

Nesta mesma linha, outro esteriótipo reproduzido que valida essa dúvida constante em relação ao caráter do negro ou negra é a tal da “malandragem”, ou seja, o negro (a) como um personagem arteiro que esta sempre a procura de uma ocasião para “se dar bem”. Claro que não estou aqui afirmando que todos os brancos são ruins, nem que todos os negros são bons, estou apenas enfatizando que diante de uma situação quaisquer de dúvida, de desencontro de informações, o critério cor, é o primeiro que fomos ensinados a adotar para validar a veracidade de uma informação. Afinal, quando se acredita nesse critério, torna-se impossível que "princesas" (brancas) sejam as vilãs, pois nos foi ensinado que seus traços doces e delicados não combinam com mentira! 


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Cultura digital X Cultura escolar: repensando as estruturas.